A função do orgasmo, Wilhelm Reich.







Como bem sabemos, enquanto estudiosos da significativa obra de Wilhelm Reich, esse grande cientista foi frequentemente atacado com interpretações distorcidas, ou fora de contexto sobre sua pesquisa científica a respeito da função da sexualidade humana, como se houvesse algo não de todo correto ou sério, em um cientista que se interessasse em estuda esse tema. 
Reich por sua vez, dizia freqüentemente que a função da sexualidade humana, foi um dos aspectos mais negligenciados pela pesquisa científica e que poucos foram os cientistas antes e mesmo depois de Freud, que se ocuparam dela como objeto de suas investigações e ainda, que entendia as críticas oportunistas e preconceituosas que se colocavam como obstáculos ao prosseguimento de suas pesquisas, como manifestações biopáticas da estrutura de caráter neurótica do homem do séc. XX. Dessa forma, constrangido a descobrir meios para superar essas críticas, Reich acabou por desenvolver estudos cada vez mais consistentes que culminaram na criação da metodologia de pesquisa orgonômica: o funcionalismo orgonômico. 

Num justificado protesto, Reich coloca em sua obra “Superposição Cósmica” – 1950: “Estamos livres para deixar a confirmação ou refutação do nosso trabalho, a qualquer pessoa que queira tomar para si tal tarefa. Devemos contudo lembrar àqueles que nunca se deram ao trabalho de olhar em um microscópio ou para o céu , que nunca entraram em um acumulador de energia orgone e contudo estão cheios de falsas opiniões “autoritárias” sobre a orgonomia, que fiquem de lado e não perturbem um trabalho sério. Fiquem no mínimo quietos!!!”

Em sua obra “People in Trouble” - 1953, Reich segue dizendo: “É impossível dominar as funções da vida, se não se as vive completamente. Quando Malinowski decidiu estudar as culturas antigas foi para as ilhas Tobriand onde conviveu com seus habitantes em suas choupanas compartilhando suas vidas e amores ... a visão revolucionária se desenvolve a partir da prática, e ao longo de um espaço de tempo ... Estamos realizando um trabalho pioneiro com nosso conhecimento psiquiátrico e biofísico e revelando os princípios básicos do processo vital. Nosso trabalho é prevenir o câncer e outras biopatias e dessa maneira fornecer os princípios da economia sexual para todos e principalmente na educação das crianças. Sabemos que às vezes, a compreensão sobre os fenômenos pode surgir prematuramente em uma pessoa, antes que os demais indivíduos tenham atingido o mesmo nível de compreensão. A história das ciências naturais e do desenvolvimento cultural está cheia desses exemplos.”

Vale dizer que antes de Reich, a sexologia representada por nomes como Forel e Hirschfeld, se ocupava da sexualidade doente, quer dizer das perversões. Não havia qualquer pesquisa científica que permitisse construir uma teoria a respeito da função da sexualidade, capaz inclusive de preencher a lacuna deixada pela teoria econômico social de Marx, uma vez que nesta, a questão da família é em si mesma cheia de elementos emocionais e irracionais que nos remetem à moral e não à ciência natural. Reich procurou preencher essa lacuna em seus livros:“A Revolução Sexual” – 1945 e “A Psicologia de Massas do Fascismo” – 1946. Nesses livros fica claro que o problema nunca foi a forma da família ou a questão da procriação em si, mas o fato de que a família e a procriação tinham obscurecido desde o início a função do prazer biológico do animal humano. A potência orgástica, o cerne da posterior sociologia sexo econômica de Reich, só foi descoberta e descrita entre 1920 e 1927. Reich ainda esclarece: “Em suma, todos os esforços para compreender e reorganizar a sociedade operaram-se sem nenhum conhecimento do problema biosexual do animal humano”.
Quando Reich escreveu seu livro “A Função do orgasmo”, o primeiro deles, 1925, 1927 –


tentava já utilizar a questão da sexualidade de modo sócio político. Entendia os problemas econômicos trazendo limitações externas que se somavam às inibições genitais já individualmente condicionadas, despotencializando assim os indivíduos, tornando-os enfraquecidos, sedentos por autoridade externa e vulneráveis ao sadismo de alguns grupos fascistas. “O sonho de uma melhor existência social permanece sendo apenas um sonho, exatamente porque acima de tudo, no plano individual, continua comprometida a capacidade de satisfação genital. A grande miséria em que o homem se acha enredado, é devido a sua couraça caracterológica, que dificulta que ele acesse suas grandes potencialidades uma vez que o afasta da sua natureza primária e portanto da necessidade de viver em uma sociedade que permita que ele realize seu sonho de uma vida socialmente realizadora, e ainda, fornece justificativas para essa fuga ...” Esclarece Reich em “O Éter, Deus e o Diabo” - 1949

A energia sexual é gerada no corpo e necessita liberar-se através da convulsão orgástica que envolve todo o organismo. Se esta liberação natural fica inibida, se produz um represamento dessa energia (estase), que dá origem a todo tipo de mecanismos neuróticos. A liberação dessa energia bloqueada através do restabelecimento da função do orgasmo é a meta terapêutica, já que desta forma se restabeleceria o fluxo natural da bioenergia e conseqüentemente se eliminaria a neurose.

Finalmente, gostaria de citar Reich ainda uma vez mais, no texto sobre o Funcionalismo Orgonômico, escrito por volta de 1947. “Tudo que fiz, foi realizar uma descoberta fundamental, superando o irresponsável porém compreensível acanhamento, no que se refere ao processo central da sexualidade. Eu meramente descobri a função do orgasmo, mas eu fiz isso de uma forma completa e consistente.”

Muito ainda haveria para falar sobre o que Reich chamou de “A Função do Orgasmo, mas talvez o mais importante seja dizer que essa pesquisa permitiu que outras portas fossem sendo abertas. Reich, além de descobrir a função terapêutica do orgasmo abriu caminho para uma consistente investigação científica que vai desce o funcionamento das amebas ao comportamento das galáxias.
Obrigada a todos


Bibliografia utilizada: 
Psicopatologia e sociologia da vida sexual - Global editora e distribuidora ltda
A Função do Orgasmo – editora brasiliense 1975
A Revolução Sexual – circulo do livro
Psicologia de Massas do Fascismo – ed.Martins Fontes, 2a edição março de 1998
La Irrupcion de la moral sexual – Editorial Homo Sapiens, Argentina
W.R.,Una Biografia Personal, por Ilse Ollendorf Reich, Granica editor, 197 Barcelona
Orgonomic Functionalism, part 2 on The Historical Development of Orgonomic Functionalism – Orgone Energy Bulletin, Maine, 1950 e
People in Trouble – Orgone Institute Press, New York 1953 - 
( ambas obras traduzidas pela Sociedade W.Reich do Brasil)
O Éter, Deus e o Diabo seguido de A Superposição Cósmica - ed.Martins Fontes, 2003 
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A crítica marxista, deve se dar, aponta Enguita, considerando:





A) que não existe um modelo de educação a partir do qual seria medida a educação existente ou que seria preparada a educação do futuro. Existe o que está posto a partir do qual se constrói o ‘la contra’. Não é um plano alternativo de educação, nem tampouco a educação de um plano alternativo de sociedade, igualmente inexistente. Não é uma dedução a partir de um suposto modelo de sociedade, mas, sim, da expressão geral do movimento real.
B) que a critica tem que ser materialista. Não têm sentindo a crítica a partir de possíveis ideais educativos ou de uma determinada idéia definida de homem e das suas necessidades. Ao contrário: a crítica deve ser construída sobre a base de que não existem nem homem abstrato, nem homem em geral, mas sim o homem que vive dentro de uma dada sociedade e em um dado momento histórico, que está determinado pela configuração social e pelo desenvolvimento histórico concretos, dos quais emergem necessidades, não limitadas somente ao homem, mas, sim necessidades históricas e sociais, entre as quais estão as necessidades no aspecto educativo.
C) a crítica não deve perder em momento algum a visão de totalidade - histórica e socialSe um dos objetivos confessos de toda educação é formar a consciência do homem, a crítica da educação deve abarcar todas as vias através das quais se produz e reproduz a consciência social e individual.
D) crítica deve mostrar a relação entre valores educativos e as condições das bases materiais que os sustentam e deve contribuir para a sua destruição. A crítica destes valores educativos é, por sua vez, a crítica de todo o reformismo pedagógico que consiste em modificar as consciências através da ação educativa, da inculcação, da ação pedagógica.
E) a análise econômica terá muito a dizer, situando a educação dentro do processo de produção e reprodução do capital e do valor, explicitando qual o papel que ela joga neste processo.
F) há que se compreender a valoração crítica da educação realmente existente, das idéias dominantes e outros aspectos da vida social que contribuem para os sucessos ou fracassos no campo da educação, que significa buscar a solução para antíteses reais nas tendências reais existentes. (ENGUITA, 1985, pp. 85-87).
Este sentido da critica marxista é colocado também por FREITAS (1995) em seu livro “Critica da Didática e da Organização do Trabalho Pedagógico. Campinas:SP, Autores Associados, destacando as seis características da abordagem marxista a saber: 1. a critica tem que se dar por oposição a uma realidade concreta e não a partir de um plano teórico; 2. A critica tem que ser materialista e não pode ser baseada em “ideais educativos”; 3. A critica deve conduzir-se sobre o real em dado momento histórico concreto, deve estar inserida em uma totalidade histórica e social. 4. Situa, o objeto da critica dentro do processo de produção e reprodução do capital; 5. Deve mostrar a relação entre os valores educativos e as condições materiais subjacentes a eles e contribuir para a destruição de tais bases. 6. Trata-se de localizar tendências existentes dentro da própria sociedade atual que permitam prever e delimitar o que serão as tendências futuras, buscando soluções por antítese reais nas tendências reais existentes.
Saviani (2004) em sua obra “Do Senso Comum a Consciência Filosófica” incorpora a noção de reflexão nos seguintes termos:  
a reflexão rigorosa do homem sobre os problemas da realidade deve atender principalmente a três requisitos: i) ser radical, o que significa dizer que a reflexão deva ir até as raízes da questão, até seus fundamentos; ii) ser rigorosa, sobretudo para garantir a primeira exigência, logo, deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados; e iii) ser de conjunto, logo, a reflexão deve relacionar o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido (SAVIANI, 2004, p. 17).

Estas indicações são fundamentais para elaboração dos trabalhos científicos de base marxista na área da educação. Isto significa que de inicio deve-se destacar a tradição marxista de critica, que segundo Saviani é:
....realizada a partir da referência da tradição do pensamento marxista, entendendo-a em sua tríade: concepção de mundo, método de análise e práxis, tomando como referência a pedagogia socialista - teoria educacional “entendida como a visão de educação decorrente da concepção marxista da história, edificada sobre a concepção da formação omnilateral. (SAVIANI, 2007, p. )

            Estes conceitos básicos, portanto, compõe e nos permitem reconhecer uma análise critica marxista. Abandonar esta referencia é contribuir com os desvios teóricos criticados por Perry Anderson conforme destaca PUCCI em sua obra sobre Teoria Critica e Educação:
Perry Anderson, em seu livro Considerações sobre o marxismo ocidental, apresenta, entre as principais características do marxismo ocidental as seguintes: a) o divórcio estrutural do marxismo com a prática política, da teoria com a práxis; b) o silencio premeditado do marxismo ocidental em áreas fundamentais para as tradições clássicas do materialismo histórico: as leis econômicas do funcionamento do capitalismo como um modo de produção, a análise da máquina política do estado burguês, a estratégia da luta de classes necessária para derrubá-la; c) deslocamento do eixo gravitacional do marxismo europeu no sentido da filosofia, de estudos da superestrutura, com sua conseqüente” academização“. Para Anderson, ajustar as contas com esta tradição, isto é, conhecê-la e romper com ela, é assim um dos pré-requisitos para uma renovação da teoria marxista hoje. (PUCCI, Bruno. Teoria critica e Educação. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. P. 13).
           
Portanto, se quisermos contribuir teoricamente, dentro da referencia marxista e ajustar contas com a tradição dos desvios e giros, com a separação das premissas teóricas das programáticas, temos que considerar as leis econômicas do funcionamento do capitalismo, a análise da máquina política do estado burguês, a estratégia da luta de classes necessária para derrubá-la.
Se quisermos contribuir, dentro da referencia marxista para ajustar conta com o trabalho pedagógico alienado que não desenvolve a critica marxista, a atitude cientifica, temos que considerar as contradições da escola, suas mediações e suas possibilidades transformadoras. Alterar o trabalho pedagógico é uma possibilidade concreta que exige a consideração do que é fundamente da ontologia do ser social – o trabalho em geral.   
A construção histórica do homem pelo trabalho determina as posição que ele pode assumir e suas atitudes valorativas frente aos fenômenos. O pensamento crítico constitui uma prova das ações, resoluções, criações e idéias à luz de determinadas teorias, leis, regras, princípios ou normas e, também, da sua correspondência com a realidade. Shardakov (1968), assinala cinco condições para que se desenvolva essa atitude crítica:
·        Possuir os conhecimentos necessários na esfera em que a atividade mental crítica deverá ser desenvolvida. Não pode se analisar criticamente aquilo sobre o qual não se possuem dados suficientes;
·        Estar acostumado à comprovar qualquer resolução, ação ou juízo emitido antes de considera-los acertados;
·        Relacionar com a realidade as regras, leis, normas ou teorias correspondentes, o processo e o resultado da solução, a ação ou juízo emitido;
·        Possuir o suficiente nível de desenvolvimento no que diz respeito à construção dos raciocínios lógicos;
·        Ter suficientemente desenvolvida a personalidade: as opiniões, as convicções, os ideais e a independência na forma de atuar.
            O que constatamos pelos dados do próprio governo é que a escola continua mantendo a divisão social do trabalho e em seu interior - não de forma mecânica, mas por mediações -, consolida a organização do trabalho alienado em geral, social, intelectual e economicamente -, expresso na organização do trabalho pedagógico alienado – social, intelectual e economicamente. Separa-se assim a educação da vida e compromete-se a formação humana. Trata-se aqui de alterar a organização do trabalhoi pedagógico da escola. Trata-se aqui de reivindicar a função social da escola socialista – garantir o acesso aos bens culturais, aos meios de produção destes bens, com a elevação do pensamento teórico dos estudantes visando a formação omnilateral, a transformação social rumo a sociedade comunista.

            REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ENGUITA, Mariano Fernandes. Trabajo, escuela e ideologia. Madrid, Espanha: Ediciones Akal S.A., 1985.
FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da Organização do Trabalho Pedagógico e da Didática.Campinas: Papirus, 1995.
PERRY, Anderson. Considerações sobre o marxismo ocidental/Nas trilhas do Materialismo Histórico. São Paulo, Boitempo, 2004
PUCCI, Bruno. Teoria critica e Educação. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. P. 13
SAVIANI, Demerval. Educação: Do Senso Comum à Consciência Filosófica. 9ªed. São Paulo: Autores Associados : Cortez, 1989.
SHARDAKOV, M. N. Desarrollo del pensamiento en el escolar. La Habana. Editorial de Libros para la Educación.1978.

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A Genealogia da Moral de Nietzsche

Esta obra de Friedrich Wilhelm Nietzsche detecta alguns pontos das origens dos valores morais. Ela foi indicada por um amigo, que percebeu que ainda tenho valores morais que devem ser excluído imediatamente, não tenho como negar ela ajudou e muito para me liberta e espero que sirva para outros também. O autor ressalta a inversão sofrida por tais valores pelas influências que se prendem com força. Por isso, quase toda a obra girará em torno da questão do valor: o que é o bom?
Como filólogo de formação, Nietzsche aprofunda-se, justamente, no estudo da palavra bom e, conseqüentemente, da palavra mau. O gênio provocativo de Nietzsche traz, assim, um texto com certo teor de sarcasmo. Isso é facilmente verificado já na primeira das três partes da obra.
Todas as questões levantadas pelo homem da época de Nietzsche, principalmente os psicólogos ingleses, não levam a nada, não trazem a origem do bem e do mal. O que importa, na psicologia nietzschiana, é a busca da verdade de uma forma imparcial, conforme ele mesmo escreve no primeiro ensaio da obra: “(...) desejo que seja exatamente o contrário; desejo que estes investigadores, que estudam a alma ao microscópio, sejam criaturas generosas e dignas, que saibam refrear o coração e sacrificar os seus desejos à verdade (...) ainda que simples, suja, repugnante, anticristã e imortal... porque tais verdades existem”. O intuito de Nietzsche, contudo, é a construção de uma História da Moral.
Essa genealogia é uma crítica ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento de Nietzsche. Apresenta um início diferenciado, que vai além de afirmar a perda de um referencial (Deus),mas que chega até a afirmação de uma diferença que se origina nas forças ativas e nas forças reativas.
Duas aplicações para que a Moral tenha se originado: por aquilo que é útil: “as ações altruístas foram louvadas e reputadas boas por aqueles a quem eram ‘úteis’”. Entretanto, a origem de tais ações acaba por ser esquecida, adquirindo ações altruístas através do costume da linguagem, como se as coisas fossem boas em si mesmas. Essa é a segunda aplicação. Para Nietzsche não há nada que seja bom em si mesmo. Dessa maneira, o filósofo faz um corte com os universais, com a metafísica e com o cristianismo.
O conceito de ‘bom’ se dá por aqueles que, através de uma prática, consideraram determinada ação como boa. É contra esse utilitarismo que Nietzsche luta. O utilitarismo não entra em sua moral.
Toda essa conceitualização do ‘bom’ e do ‘mau’, originada na antítese da divisão das classes sociais, nasce, justamente, do pensamento de que o homem é um ser dominante. Isso está inteiramente intrínseco em seus instintos. No instinto de dominação é que a genealogia da moral encontrou sua real expressão. Para o filósofo, tal “tentativa de explicação é errônea, mas sensata e psicológica”.
Como filólogo que é, Nietzsche faz uma análise morfológico da palavra alemã schlecht (mau). Em seus estudos, ele descobre que esta palavra é idêntica à schlicht (simples). Daí, ele chega ao schlichtsweg (simplesmente) e schlechterding (absolutamente), o que traz, desde suas origens, a função de designar o homem simples, plebeu. Tudo isso para provar que as palavras nascem dentro das circunstâncias. Isso revela que a classe dominante acabou associando a classe plebéia ao conceito daquilo que é mau, o oposto, a antítese da classe nobre. Por isso, os homens que se sentem e são privilegiados (classe nobre) é quem espelham o conceito de ‘bom’.
Ainda em sua análise morfológica, Nietzsche, baseado no latim, faz uma outra analogia com a palavra malus, relacionada com melas (negro) e usada para designar o homem plebeu, de cor morena e de cabelos pretos (hic niger est). O “bom”, o “nobre”, o “puro” é o de cabelos loiros. Isso faz oposição com o individuo de cabelos negros. Com isso, a conceituação ganha um caráter estritamente político, que passa para um conceito agora psicológico.
A psicologia inglesa, empirista, é o que puxa o homem para baixo. Por isso, para Nietzsche pouco importa o conteúdo dos comentários dos psicólogos. Eles puxam o homem para uma passividade do majoritário.
Em sua conceituação extremamente humana, colocando o homem no centro das ações, Nietzsche cria teses totalmente contrárias à dos psicólogos ingleses. Mesmo no campo da religião, o filósofo faz um ferrenha crítica à chamada “casta sacerdotal”. Essa casta cria como que uma alienação nos indivíduos, pois é uma classe dominante. A casta sacerdotal acaba por dominar até mesmo sobre a classe nobre. Conseqüentemente, domina também sobre a classe plebéia.
Contra toda essa dominação, Nietzsche defende que a Moral deve nascer imparcialmente. Não há necessidade de se levar em consideração os valores trazidos pela classe dos sacerdotes nem tampouco pela classe dos nobres.
Contudo, fazendo ainda um estudo psicológico da genealogia, Nietzsche constata que a verdade quanto ao “bom” e ao “mau” adquire uma nova faceta se olhada pelo lado da plebe. Na classe dominada, o conceito de mau se atribui à nobreza, pois esta, com sua repreensões, castiga, maltrata, despreza a classe mais baixa. Desse modo, se for perguntado ao escravo quem é o mau, ele apontará para o seu senhor.
Tudo isso explica porque o homem só consegue pensar em relação ao pensamento de outros. O bom é aquilo que o homem achou útil para si, vindo do outro. A utilidade mesquinha, a referência a outros para pensar e agir tornam-se, para Nietzsche, uma origem marcada de uma inércia duvidosa e de um hábito sem graça. Isso somente distancia o homem daquilo que é realmente autêntico.
Com sua obra, Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. O intuito da obra é o de despertar o leitor para uma reflexão e uma ação mais consciente da realidade. Os valores necessitam ser repensados.
Para repensar os valores, é preciso que encontremos, agora, conceitos extremamente imparciais, desligando-nos de qualquer tipo de moral que aprisione. As morais baseadas em conceitos metafísicos tendem ao nada. Os valores tendem a se deteriorar e surgirem novos valores.
A proposta nietzschiana de um ideal ascético, um asceticismo diferente do propagado pelos padres, é aquele que coloca o homem no centro. A finalidade desse ideal está nas ações humanas que se baseiam tão somente nas suas relações, não mais com a ‘vontade divina’. Essa proposta de Nietzsche é radical. Traz uma mudança essencial das tendências que nos leva a uma antítese.
A salvação deve ser procurada em outra parte. A obra, quando já elaborada, não necessita do artista para ser tomada a sério. Por isso, o filósofo nos leva às origens da Moral, para, dali, partirmos para novos valores. Sem isso, o homem estará fadado a sempre encontrar o fracasso, os valores perdendo seus sentidos (niilismo), já que o ser humano transita entre os valores de acordo com suas necessidades.
Portanto, Nietzsche nos abre os olhos da razão e dos sentimentos para algo mais chão, mais próximo da realidade humana. Resgatar as origens da moral do homem é resgatar a ele próprio, colocando-o em sua dignidade de igualdade. As classes existentes apenas distanciam os homens uns dos outros. Parece até mesmo que Nietzsche pressentia, ou intuía, toda a sociedade contemporânea em que vivemos. Dia após dia, o homem vai se tornando mais solitário, mais fechado em seu mundo individual, perdendo valores, esvaziando-se. Nisso tudo, cada vez mais se perde o sentido da vida, a finalidade das coisas. Tudo é efêmero, transitório. É a humanidade destruindo a própria humanidade.
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Wilhelm Reich

"A vida brota de milhares de fontes vibrantes, entrega-se a todos que a agarram, recusa-se a ser expressa em frases tediosas, aceita apenas as ações transparentes, as palavras verdadeiras e o prazer do amor." 



 Com mensagens como essa, Reich, teórico controvertido, conquistou seguidores no mundo inteiro. Ele vinha de uma família de judeus não-praticantes. Foi educado em casa até os 13 anos, quando a mãe suicidou-se. Três anos depois, perdeu o pai.  Junto com o psicanalista Freud começa aborda a chamada Vegetoterapia Caractero-Analítica e posteriormente de Orgonoterapia. 

 Seu interesse em compreender as origens sociais das doenças mentais e buscar métodos de prevenção das neuroses, levou-o a desenvolver um trabalho sócio-político intenso junto a juventude operária alemã, trabalho este que recebeu a denominação de Sexpol. Sua atuação político-social custou-lhe muitas perseguições pois, nessa época, a Alemanha estava vivendo o auge da ascensão do nazismo. Custou-lhe também o seu desligamento da IPA, uma vez que seus dirigentes temiam que seu envolvimento político pudesse ameaçar a sobrevivência desta sociedade na Alemanha hitlerista. Para não ser preso pelos nazistas, Reich precisou fugir da Alemanha, em 1934, refugiando-se em Oslo na Noruega Na Universidade de Oslo, sua pesquisa clínica e experimental sobre a dinâmica biopsíquica das emoções permitiu que ele descobrisse o fenômeno do encouraçamento, elucidando aspectos fundamentais da relação entre soma e psiquismo. Suas pesquisas sobre a energia orgônica forneceram nova fundamentação às concepções energéticas mais antigas, permitindo correlacioná-las com os conceitos freudianos de libido e energia psíquica e demonstrando sua relação com a sexualidade. Suas pesquisas sobre a biopatia do câncer demonstraram como esta, e outras patologias, são engendradas num longo processo de desequilíbrio emocional e bioenergético. Reich foi, sem dúvida, um importante pioneiro no estudo dos fenômenos psicossomáticos. Suas descobertas não se limitam a explicar o envolvimento psíquico nas doenças orgânicas, mas também o envolvimento de disfunções corporais no caráter neurótico e nas psicopatologias.Reich foi, sem dúvida, um importante pioneiro no estudo dos fenômenos psicossomáticos. Suas descobertas não se limitam a explicar o envolvimento psíquico nas doenças orgânicas, mas também o envolvimento de disfunções corporais no caráter neurótico e nas psicopatologias. Theodore Wolfe, importante pesquisador em Psicossomática, foi a Oslo estudar com Reich e traduziu para o inglês várias de suas obras. Em 1939, Reich mudou-se para os Estados Unidos a convite de Wolfe que, juntamente com sua esposa Francis Dunbar, e Franz Alexander, fundaram, neste mesmo ano, a Sociedade Americana de Medicina Psicossomática. A partir da década de 40 a Medicina Psicossomática oficial afastou-se de Reich, principalmente devido às perseguições políticas que ele passou a sofrer nos EUA. Desta forma, a Medicina Psicossomática não assimilou as descobertas posteriores de Reich, nem incorporou seus métodos terapêuticos, ficando assim desprovida de uma abordagem clínica própria. O conhecimento reichiano evoluiu como uma especialidade terapêutica independente. A partir de 1945 as descobertas de Reich se diversificaram, passando a abranger outros campos do conhecimento além da clínica, como a Puericultura, a Psicologia de Massas e a pesquisa experimental em Ciência Orgonômica, dentre outros.

A liberdade sexual é um direito de todos, libertas-se! O casamento e a igreja são instituições falidas!
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Anton Pannekoek: Marxismo e Darwinismo.

O marxismo deve sua importância e posição somente pelo papel que cumpre na luta do proletariado, todos sabem. Com o darwinismo, entretanto, as coisas parecem diferentes para o observador superficial, pelo fato de o darwinismo lidar com uma nova verdade científica, que luta contra os preconceitos religiosos e a ignorância. Todavia não é difícil ver que, na realidade, o darwinismo se submeteu às mesmas experiências que o marxismo.
O darwinismo não é uma mera teoria abstrata que foi adotada pelo mundo científico depois de discutida e testada de uma maneira puramente objetiva. Não, imediatamente depois de seu aparecimento, houve entusiastas defensores e apaixonados oponentes; o nome deDarwin, também, foi altamente honrado pelas pessoas que entenderam alguma coisa de sua teoria, ou desprezado por aqueles que não conheciam nada mais de sua teoria do que "o homem descendeu do macaco” e que eram certamente desqualificados para julgar de um ponto de vista científico a correção ou falsidade da teoria de Darwin. O darwinismo, também, teve um papel na luta de classes e é devido a esse papel que a teoria se espalhou tão rapidamente e teve entusiastas defensores e venenosos oponentes.
O darwinismo serviu como uma ferramenta para a burguesia em sua luta contra a classe feudal, contra a nobreza, os direitos do clero e dos senhores feudais. Esta luta foi inteiramente diferente da luta que agora os proletários travam. A burguesia não era uma classe explorada se esforçando para abolir a exploração. Não!
O que a burguesia queria era livrar-se do poder da velha classe dominante que estava em seu caminho.
A burguesia queria ela própria dominar, baseando suas exigências no fato de que ela era a classe mais importante, os líderes da indústria.
Que argumento poderia a velha classe, a classe que havia se tornado nada mais do que inútil parasita, apresentar contra a burguesia? Eles se apoiaram na tradição, nos seus antigos “direitos divinos”. Estes foram seus pilares. Com a ajuda da religião os padres mantiveram a grande massa na sujeição e pronta para se opor às exigências da burguesia.
Foi, portanto, por seu próprio interesse que a burguesia trabalhou para minar o direito "divino" dos governantes. A ciência natural tornou-se uma arma na oposição à crença e à tradição; a ciência e as recentes descobertas de leis naturais foram promovidas. Foi com estas armas que a burguesia lutou. Se as novas descobertas pudessem provar que o que os padres estavam ensinando era falso, a autoridade "divina” destes padres se esfarelaria e os “direitos divinos” gozados pela classe feudal seriam destruídos. É claro que a classe feudal não foi derrotada por isso somente; como um poder material só pôde ser derrubada por um poder também material, mas as armas mentais se tornaram ferramentas materiais. Foi por essa razão que a burguesia apoiou-se tanto na ciência material.
O darwinismo veio no tempo desejado. A teoria de Darwin de que o homem descendeu de um animal mais primitivo destruiu todo o fundamento do dogma cristão. É por essa razão que tão logo o darwinismo apareceu, a burguesia o agarrou com grande entusiasmo.
Não foi o caso da Inglaterra. Aqui vemos novamente como foi importante a luta de classes para a expansão da teoria de Darwin. Na Inglaterra a burguesia já dominava havia alguns séculos e, em massa, eles não tinham interesse em atacar ou destruir a religião. É por essa razão que embora esta teoria tenha sido amplamente lida na Inglaterra, mesmo assim não causou alvoroço em ninguém; ela simplesmente permaneceu como uma teoria científica sem grande importância prática.
Darwin considerou-a como tal e por medo que sua teoria pudesse chocar os preconceitos religiosos vigentes, ele propositalmente evitou aplicá-la imediatamente ao homem. Foi somente depois de numerosos adiamentos e depois de outros fazerem antes dele, que decidiu dar esse passo. Em uma carta a Haeckel ele deplorou o fato de que sua teoria deveria bater de frente com muitos preconceitos e tanta indiferença e que não tinha a perspectiva de viver o suficiente para vê-la transpor estes obstáculos.
Mas na Alemanha as coisas eram inteiramente diferentes e Haeckel corretamente respondeu a Darwin que sua teoria teve uma recepção entusiasmada na Alemanha. Isso aconteceu porque no momento em que apareceu naquele país a teoria de Darwin, a burguesia estava se preparando para levar adiante um novo ataque ao absolutismo e ao junkerismo. A burguesia liberal era encabeçada pelos intelectuais. Ernest Haeckel, um grande cientista e de ainda maior ousadia, imediatamente esboçou em seu livro, “Criação Natural”, conclusões mais ousadas contra a religião. Então, enquanto o darwinismo conhecia a recepção mais entusiasmada por parte da burguesia progressista, era amargamente rejeitado pelos reacionários.
A mesma luta também aconteceu em outros países europeus. Em todo lugar a burguesia liberal progressista tinha que lutar contra os poderes reacionários. Esses reacionários possuíam ou tentavam obter, através dos seguidores religiosos o poder cobiçado. Sob estas circunstâncias mesmo as discussões científicas eram imbuídas de entusiasmo e paixão da luta de classes. Os escritos que aparecem a favor ou contra Darwin tinham, portanto, a marca de polêmicas sociais, a despeito do fato de que eles levavam os nomes de autores científicos. A litania dos escritos populares de Haeckel, quando olhada de um ponto de vista científico, é muito superficial, enquanto os argumentos e demonstrações de seus oponentes mostram tolices inacreditáveis que só podem ser encontradas nos argumentos usados contra Marx.
A luta travada pela burguesia liberal contra o feudalismo não foi levada até o fim, foi particularmente devido ao fato de que em todo lugar os proletários socialistas faziam sua aparição, ameaçando todos os poderes dominantes, incluindo o da burguesia.
A burguesia liberal se afrouxou, enquanto as tendências reacionárias ganharam força. O entusiasmo anterior em combater a religião desapareceu inteiramente e enquanto é verdade que os liberais e os reacionários se mantiveram lutando entre si, na realidade, entretanto, eles se aproximaram. O interesse anteriormente manifestado na ciência como uma arma na luta de classes, desapareceu totalmente, enquanto que a tendência reacionária de que as massas deveriam assimilar a religião tornou-se cada vez mais acentuada.
A estima pela ciência também sofreu uma mudança. Antes, a educação burguesa era fundada sobre uma concepção materialista do universo, de onde eles viam a solução para o enigma universal. Agora o misticismo se fortaleceu; tudo o que foi explicado aparece como trivial, enquanto todas as coisas que permanecem sem explicação, aparecem como sendo muito grandes, abarcando a mais importante questão vital. Um estado de espírito cético, crítico ou de dúvida tomou o lugar do júbilo anterior em favor da ciência.
Isto poderia também ser visto na posição tomada contra Darwin. “O que demonstra esta teoria? Ela deixa sem resolução o enigma universal! De onde vem esta maravilhosa natureza da transmissão; De onde vem a habilidade dos seres animados de se modificar tão adequadamente?" Aqui reside o misterioso enigma da vida, que não podia ser superado com princípios mecânicos. Então, o que restou do darwinismo à luz da crítica posterior?
É claro, o avanço da ciência começou a fazer um rápido progresso. A solução de um problema sempre traz novos problemas à superfície para serem resolvidos, os quais estavam escondidos sob a teoria da transmissão que Darwin teve que aceitar como uma base de investigação, que foi cada vez mais investigada; uma calorosa discussão se colocou sobre os fatores individuais do desenvolvimento e a luta pela existência.
Enquanto alguns cientistas dirigiram sua atenção à variação, a qual eles consideravam devida ao exercício e adaptação à vida (de acordo com o princípio posto por Lamarck), esta idéia foi expressamente negada por cientistas como Weissman e outros. Enquanto Darwinsomente supôs graduais e lentas mudanças, De Vries encontrou repentinos e abruptos casos de variação resultantes de súbitos aparecimentos de novas espécies.
Tudo isto, enquanto fortalecia e desenvolvia a teoria da descendência, em alguns casos deram a impressão de que as novas descobertas despedaçavam a teoria darwinista e, portanto, cada nova descoberta que causasse esta impressão era saudada pelos reacionários como uma falência do darwinismo. Esta concepção social teve sua influência na ciência. Cientistas reacionários clamaram que um elemento espiritual é necessário. O sobrenatural e o insolúvel tomaram o lugar do darwinismo e aquela classe que no início usou a bandeira do darwinismo se tornou cada vez mais reacionária.
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